Artigo de Opinião – Por André Hemerly Paris, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
No cerne da filosofia liberal, está a defesa da liberdade individual e a ideia de respeito ao “rule of law” (expressão que pode ser traduzida para “Estado de Direito”). Esses e outros princípios formam a espinha dorsal do liberalismo e chocam-se com a noção de intervenção militar, particularmente quando empregada para influenciar ou determinar os rumos políticos de uma nação.
A intervenção militar, seja interna ou externa, é frequentemente justificada sob o pretexto de restaurar a ordem, proteger interesses nacionais ou promover valores democráticos. Contudo, tais ações contradizem diretamente os princípios de autodeterminação dos indivíduos que compõem determinada sociedade e em suas liberdades, como a liberdade de expressão, liberdade de ir e vir e liberdades políticas, além de apresentar potencial risco à integridade física e à vida dos indivíduos localizados na nação objeto da intervenção.
A história oferece exemplos elucidativos das consequências de intervenções militares. Um caso emblemático é o golpe de Estado no Chile em 1973, liderado pelo general Augusto Pinochet. A intervenção instaurou um regime autoritário responsável por restringir a liberdade de milhares de chilenos.
De forma similar, a intervenção militar no Iraque em 2003, liderada pelos Estados Unidos sob a alegação de a nação invadida possuir armas de destruição em massa, ilustra outro aspecto controverso: a imposição de valores democráticos por meio da força. Tal incursão desencadeou uma série de conflitos sectários e instabilidade política.
A promoção da democracia e dos direitos humanos não deve ser realizada à força e por meio da restrição da liberdade de indivíduos, mas sim por meio do convencimento. As ideias da liberdade são como um farol, e seus resultados naturalmente iluminam aquelas regiões que ainda não as aplicaram.
O liberalismo, com seu compromisso com a liberdade individual, autodeterminação individual e respeito ao Estado de Direito, localiza-se em posição diametralmente oposta à defesa da intervenção militar. Os exemplos históricos trazidos demonstram que tais ações, ainda que se digam protetoras da liberdade ou da democracia, frequentemente resultam em regimes autoritários, violações de liberdades individuais e instabilidade política. Afinal, como disse Ludwig von Mises uma vez: “Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão”.