Resenha Crítica – Por Betina Menegaz Acerbi, associada trainee do Instituto Líderes do Amanhã
Jim Collins e Morten T. Hansen trabalharam em parceria na elaboração do prestigiado livro “Vencedoras por Opção”. Lançado em 2018, o livro busca responder uma pergunta pertinente no meio coorporativo: “Por que algumas empresas prosperam na incerteza, até mesmo no caos, e outras não?”.
James Collins possui formação acadêmica na Stanford Graduate School of Business. Um pesquisador que compartilha seu conhecimento por meio de livros que se integram, destaque para a correlação de “Empresas feitas para vencer” e “Como as gigantes caem” com “Vencedoras por Opção”. Também executa trabalhos de consultoria. No Brasil, temos Abilio Diniz como exemplo de empresário cliente.
Morten T. Hansen segue atualmente uma carreira acadêmica como professor de Administração na Universidade da Califórnia, e possui diversos artigos publicados. Também foi professor na Harvard Business School, e premiado pela Administrative Science Quarterly, por suas contribuições nos estudos organizacionais.
A biografia dos autores é evidenciada na leitura do livro. Com uma linguagem simples e exemplos metafóricos que permitem uma associação mais dinâmica, o livro discorre e analisa, com muita qualidade metodológica, os pontos em comum de companhias que tiveram grande valorização no mercado, apesar das crises e incertezas dos últimos anos.
O primeiro capítulo do livro, trata sobre a seleção das empresas a serem analisadas como “vencedoras”. Na justificativa para a seleção, foi pontuado o destaque das companhias em meio ao seu setor em específico; Em como elas prosperaram em pelo ao menos dez vezes mais em relação a suas concorrentes, levando em conta que todas passaram pelos mesmos eventos externos. Como exemplo tem-se companhias aéreas: Pacific Southwest Airlines e Southwest Airlines, que vivenciaram a crise no setor gerada pelo atentado do dia 11 de setembro.
Seguido desse capítulo temos a análise dos “Líderes 10x”, nomenclatura utilizada pelos autores para os CEOs das empresas que se destacaram. Três comportamentos das lideranças foram elencados como essenciais para o destaque das companhias, são eles: disciplina fanática, criatividade empírica e paranoia produtiva.
De forma criativa e cativante, os autores exploraram os comportamentos determinantes dos “Líderes 10x” das companhias analisadas, concomitante à saga e aos resultados de Roald Amundsen e Robert Falcon, líderes de duas equipes de aventureiros que tinham como objetivo chegar ao Polo Sul, e que tiveram destinos distintos.
Roald chegou ao Polo Sul em 14 de dezembro de 1911, enquanto Robert chegou três dias depois, e junto de sua equipe pereceu na viagem de retorno, devido à exaustão, fome e frio extremo. Os autores analisam como o resultado das equipes se distinguiram quanto às decisões baseadas ou negligentes aos três comportamentos essenciais citados.
Em disciplina fanática, que seria o primeiro comportamento essencial, os autores comparam a necessidade de determinar de forma clara e adequada os objetivos da companhia e realizar as ações necessárias ao alcance com consistência, equivalente à marcha de 20 milhas de Amundsen.
John Brown, CEO da Stryker, empresa do ramo de tecnologia voltada para saúde, estabeleceu como meta um crescimento de lucro líquido de 20% em todos os anos. Incluiu fortemente esse objetivo na cultura gerencial da empresa e não cedeu a pressões, quanto a aumentar o percentual em “bons tempos”. Amundsen liderou sua equipe com a expectativa de marchar 20 milhas por dia ao Polo Sul, independente das condições externas.
Dessa forma, assim como a Stryker, as equipes engajadas com o objetivo não cederam e se encontraram em melhores condições para encarar os “maus tempos” e continuar fiel ao objetivo a ser alcançado, com uma disciplina em alto grau. Stryker conseguiu um resultado constante de crescimento por vários anos. Enquanto Falcon não teve a mesma constância em liderar sua equipe, e assim como outras empresas, os bons momentos acabaram indisciplinando e desgastando os liderados para enfrentar os maus tempos.
Em criatividade empírica os autores utilizam a metáfora “primeiro balas de revólver, depois balas de canhão”. O capítulo aborda sobre a necessidade que as empresas 10x possuem em testar seus planos de negócios, antes de investirem em inovações. Uma forma das companhias avaliarem e ponderarem para a conversão dos novos produtos ou serviços em retornos significativos, alinhados aos seus objetivos. Inovar com “balas de revolver” para ter bases empíricas ao lançar “balas de canhão” ao mercado.
Como exemplo da metáfora, o livro cita os trenós puxados por cachorros utilizados por Roald em sua expedição. Falcon procurou inovar utilizando trenós modernos e automatizados, mas que acabaram não funcionando quanto o objetivo da expedição, por sucumbirem às baixíssimas temperaturas nunca testadas.
Seria também um hábito de empresas vencedoras a constante “vigilância” do seu negócio frente ao meio. Mesmo sendo impossível prever as circunstâncias que irão afetar a natureza de seus negócios, é possível analisar as possibilidades e se preparar para elas por meio de ações produtivas. Como exemplo dessas ações, os autores relacionam o caixa das companhias. A posição conservadora de guardar dinheiro proporciona solidez financeira frente os momentos de “azar” do mercado.
O livro também procura mensurar o efeito “sorte” nas empresas, e de forma bastante densa, busca provar como os cases de sucesso não tiveram “mais boa sorte” que seus concorrentes. Dessa forma, entende-se que a sorte “vem para todos” em algum momento. O diferencial das grandes companhias não está no evento em si, mas na preparação e perspicácia da empresa, em aproveitar e ter condições de grandes ações nesse momento.
Diante das imprevisibilidades que todos estamos sujeitos e que a todo dia lidamos, a obra apresenta, de forma clara e didática, o contraste de comportamentos que influenciaram no crescimento exponencial de algumas empresas frente a seus concorrentes diretos. Uma leitura leve que busca a reflexão sobre a nossa preparação frente às circunstâncias que não possuímos controle.