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Resenha – A Nascente

Resenha Crítica – Por Daniel Couto Bergantini, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã

“A Nascente”, obra-prima de Ayn Rand publicada em 1943, ecoa os temas centrais que também permeiam outras obras da autora, como “A Revolta de Atlas”. Ambientada na cidade de Nova York, a história nos apresenta Howard Roark, um arquiteto que personifica os ideais e virtudes objetivistas, como integridade, independência e produtividade.

Desde o inicio da obra, é apresentado o embate entre Roark e as convenções sociais. Ele opta por ser expulso da universidade, em vez de comprometer sua visão e valores, recusando-se a submeter sua criatividade à mediocridade e ao conformismo. Essa escolha inicial estabelece o tom para a jornada de Roark em busca de autenticidade e realização pessoal.

Assim como em “A Revolta de Atlas”, Ayn Rand utiliza “A Nascente” como uma plataforma para explorar e promover suas ideias filosóficas. A filosofia objetivista, que enfatiza a primazia do indivíduo, da razão e da busca pela realização pessoal, permeia toda a narrativa, moldando as ações e dilemas enfrentados pelos personagens.

A oposição ao herói é personificada por dois personagens principais, Ellsworth Toohey e Peter Keating. Toohey emerge como a encarnação de todos os princípios coletivistas, sendo o coletor de “almas” e o destruidor de toda grandeza do espírito humano. Ele é ciente de que nada tem a oferecer ou criar, e faz disso sua virtude, sendo o grande niilista de espírito. Enquanto isso, Keating representa a ausência de “alma” e vontade individual, sucumbindo às pressões externas em busca de aceitação e sucesso – não o sucesso em sua própria visão, mas na visão dos outros.

Outros personagens, como Dominique Francon e Gail Wynand, representam os virtuosos que a sociedade corrompeu e desiludiu, cujas perspectivas foram distorcidas e virtudes comprometidas pela mediocridade e pela abundância dos homens de segunda mão.

Além da qualidade e complexidade dos personagens, outros destaques da obra, como marca registrada da autora, estão os discursos pontuais que permeiam a narrativa, transmitindo toda a filosofia de Ayn Rand. Esses discursos provocam uma reflexão profunda sobre o conflito, coletivismo e altruismo versus individualismo e egoísmo racional, que é central na obra.

Através desses momentos marcantes, os personagens expressam suas visões de mundo e confrontam as ideias predominantes na sociedade retratada por Rand. Esses discursos não só impulsionam a trama, mas também desafiam o leitor a questionar suas próprias crenças e valores, convidando-o a refletir sobre questões fundamentais relacionadas à liberdade, moralidade e propósito da existência humana.

Como exemplos de discursos marcantes da narrativa, temos o discurso de Cathrine, cuja alma e espírito foi destruída primeiro por Toohey. Neste discurso, testemunhamos a gradual degradação de alma e espírito de “Kate” sob a influência manipuladora do altruísmo. Inicialmente motivada pelo desejo genuíno de ajudar os outros, acaba sendo manipulada por E. Toohey, para acreditar que a verdadeira virtude está em sacrificar o próprio bem-estar, o seu ego, em prol dos menos afortunados. Essa transformação não apenas compromete sua autenticidade e independência, distorce sua percepção de bondade e alimenta um sentimento de ressentimento. Ela se torna dependente de ter vítimas para socorrer, reforçando assim sua suposta superioridade moral, destacando o impacto corrosivo do coletivismo e do altruísmo na psique humana, e alertando-nos sobre os perigos de sacrificar o ego em nome de um suposto bem maior..

Outro discurso, que se destaca é o do protagonista. O discurso de Howard Roark é uma afirmação dos princípios do individualismo e da independência. Ele declara que a mente é a principal ferramenta do homem, e que a capacidade de pensar e agir por si mesmo é essencial para a sobrevivência e a realização pessoal.

Roark continua seu discurso e contrasta o criador, que busca sua própria realização através do pensamento independente e da ação produtiva, com o parasita, que saqueia, copia e busca o controle e a cosquista sobre os homens, que vê o individuo como ferramenta para o uso de outros.

“(…) Olhem a história. Tudo o que temos, cada grande realização veio do trabalho independente de alguma mente independente. Cada horror e destruição veio de tentativas de converter homens em rebanhos sem cérebros, robôs sem almas.” – Ayn Rand

É uma declaração do direito inalienável de cada ser humano à sua própria existência e aos frutos de seu próprio esforço.

Em suma, “A Nascente” não é apenas uma obra de ficção, mas uma poderosa exploração dos dilemas morais e filosóficos da humanidade. Através de personagens complexos e discursos provocativos, Ayn Rand desafia os leitores a questionar suas próprias crenças e valores, e a considerar o verdadeiro significado da liberdade, da moralidade e do propósito da existência humana. É uma obra que continua a inspirar e provocar reflexões profundas, mesmo décadas após sua publicação original.

Autor

Daniel Couto

Daniel Couto Bergantini

Associado I

Golden Valley Consulting ltda

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