Resenha Crítica – Por Lucas Pessanha Richa, associado Trainee do Instituto Líderes do Amanhã
O livro “As Seis Lições”, de Ludwig von Mises, é uma coletânea de palestras realizadas pelo economista, grande nome e referência na Escola Austríaca e para o desenvolvimento da filosofia econômico-liberal.
No ano de 1958, Mises teve a oportunidade de palestrar na Argentina e discorrer sobre seus principais pensamentos sobre temáticas vinculadas à economia e à sociedade da época em geral, e por sua vez, a transcrição dessas foi consolidada e estruturada em seis capítulos diferentes, que abrangem os principais conceitos abordados por Mises. Como o público dessas palestras era diverso, a coletânea aborda temáticas de maneira clara, objetiva e de compreensão simplificada.
A primeira lição, ou primeiro capítulo da coletânea, tem como principal objetivo explicar o capitalismo, na visão de Mises. Para ele, o capitalismo é o único sistema econômico concebido que permite, essencialmente, a ascensão e prosperidade individual e coletiva. A economia de mercado, em conjunto com a propriedade privada e liberdade individual para livre iniciativa dos indivíduos, foram responsáveis pela elevação relevante do padrão de vida dos indivíduos que viveram nas sociedades que adotaram o regime econômico em questão, quando comparados com épocas passadas ou sociedades que adotaram sistemas econômicos distintos.
Um ponto a ser destacado ao longo do desenvolvimento do texto, é o histórico dos contrapontos ao sistema capitalista, que vem camuflado sob uma temática de condições de trabalho precárias, porém a real razão é vinculada à antiga nobreza e aristocracia agrária, que no século XIX foi forçada a acompanhar os salários mais altos que eram pagos aos colaboradores industriais durante a época da Revolução Industrial.
Logo na sequência, no segundo capítulo ou segunda lição, Mises traz uma análise histórica e, por consequência, uma crítica ao socialismo. O autor, demonstra, de maneira simples, que sem uma economia livre, com o mercado e seus consumidores como soberanos, o sistema fica à mercê de um sistema central, cujo planejamento tende à irracionalidade e consequente falha. Segundo Mises, a concentração de poder no “sistema central”, conhecido como governo/Estado, além de impactos econômicos severos, também contribui para um declínio nas liberdades individuais, a iniciar pela falta de liberdade de escolha dos indivíduos consumidores.
De maneira coerente, a lição subsequente ao capítulo sobre o socialismo fala sobre Intervencionismo. A discussão abordada pelo autor, que traz um modelo entremeado entre o capitalismo e o socialismo, no qual o governo possui uma função arbitrária sobre precificação, regulação, impostos e subsídios, é demonstrado que, ainda que o governo possua representantes bem-intencionados, este não é capaz de trazer uma contribuição positiva para a sociedade com uma atuação nesse formato. Além disso, o autor reforça que
esse modelo falho, no longo prazo, tende a se tornar um grande censurador da liberdade total dos indivíduos, se aproximando, ou tornando-se em totalidade, um sistema socialista.
A quarta temática, abordada na quarta lição do livro, é a Inflação. Com uma abordagem ampla em um contexto de economia e política monetária, o autor enfatiza que a inflação é um fenômeno gerado pelo aumento da quantidade de dinheiro/moeda em circulação dentro de uma economia, sem o devido aumento justificado de capacidade de produção de bens e serviços. Neste cenário, somado a políticas governamentais de criação de moeda, além de um efeito oneroso para a sociedade e economia, indivíduos e agentes econômicos que acessam de maneira primária o recurso “criado”, são beneficiados em detrimento dos agentes que acessam o novo recurso de maneira tardia, causando uma distribuição de riqueza desigual e prejudicial às classes mais baixas da pirâmide social.
Em sequência à lição de inflação, o autor traz à tona a lição sobre Investimento Estrangeiro, defendendo que a entrada de recursos estrangeiros em uma economia é uma importante ferramenta para o desenvolvimento da nação que recebe os recursos. A entrada de capital, por muitas vezes responsável pelo investimento direto em economia real, tende a ser motor para o desenvolvimento de tecnologias, desenvolvimento econômico e, consequentemente, o desenvolvimento social. Esse tipo de transação, segundo o autor, tende a ser mutuamente benéfico entre as partes, como demonstrado por Mises ao comparar as nações que foram receptivas com essa entrada de capital estrangeiro contra nações que foram contrárias e adotaram políticas dificultadoras de tal investimento.
De modo a solidificar os conceitos e as lições abordadas ao longo de toda a obra, Mises traz a última lição de seu livro, denominada Política e Ideias. Nesta lição, o autor traz à tona a importância do papel das ideias em uma sociedade, reforçando que qualquer tipo de crescimento ou evolução social/econômica tem correlação direta com as boas ideias (como liberdade econômica, propriedade privada) predominam em determinado momento da história de uma nação. Da mesma forma, como contraponto, ideias ruins, quando em posição de destaque, tendem a direcionar a sociedade para cenários de crise em todos os âmbitos. Em resumo, o livro “As Seis Lições” deve ser encarado como um primeiro passo para o entendimento do pensamento liberal, como uma dinâmica de leitura simples, porém com argumentações e análises extremamente coerentes e embasadas dentro do contexto histórico vivido à época de sua publicação, mas que se mantém presente e coevo até os dias atuais. Afinal, a liberdade econômica, baseada em princípios sólidos como o capitalismo, a livre iniciativa e a propriedade privada, são essenciais para a prosperidade e para o crescimento social e econômico de uma nação.
