Resenha Crítica – Por Daniela Hemerly Emery Cade, Associada II do Instituto Líderes do Amanhã
Em determinado momento, é comum questionar os motivos pelos quais algumas nações trilham o caminho da prosperidade, enquanto outras se mantêm estagnadas na pobreza. Compreender essa dinâmica é fundamental para entender os desafios enfrentados pelos países no mundo. Nesse contexto, o livro “Por que as Nações Fracassam”, dos autores Daron Acemoglu e James A. Robinson, destaca-se não apenas por sua abordagem didática, mas também pelo embasamento sólido ao elucidar as causas relacionadas ao fracasso das nações. Esta análise, consequentemente, ajuda a deduzir os fatores que fundamentam o sucesso e a prosperidade de outras sociedades.
Daron Acemoglu, economista de renome mundial, é professor do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT). Ele é conhecido por seu trabalho em economia política, tendo sido premiado com o Prêmio John Bates Clark, uma honraria dada a economistas sob a idade de quarenta anos que tenham contribuído significativamente para o pensamento econômico.
James A. Robinson, por outro lado, é um cientista político e economista, cuja pesquisa se debruça sobre as bases da prosperidade e da miséria a longo prazo. Ele leciona na Universidade de Chicago e reúne, em seu portfólio, uma série de análises sobre as origens das instituições, democracia e desenvolvimento econômico.
Ambos, além de respeitados intelectuais em seus campos, compartilham uma amizade sólida que ultrapassa as fronteiras convencionais do trabalho acadêmico. Essa proximidade enriqueceu a colaboração deles, permitindo que sintetizassem suas ideias em uma teoria coesa e abrangente sobre prosperidade e pobreza entre as nações.
A teoria apresentada na obra apoia-se em duas afirmações cruciais. A primeira é que “a diferença entre países prósperos e países pobres reside na natureza de suas instituições. Complementando essa perspectiva e em referência com o próprio título da obra, a segunda afirmação é: “As nações fracassam em virtude de suas instituições extrativistas!”.
Uma das teses centrais é a ideia de que as “instituições” são as regras do jogo em uma sociedade, ou seja, são normas, lei, regulamentos e sistemas que regem e moldam o comportamento das pessoas e das organizações. No entanto, como os autores destacam, não se trata apenas da quantidade de regras, mas da qualidade das instituições – sendo as “inclusivas” benéficas para o sucesso e as “extrativistas” geralmente levando ao fracasso.
Instituições extrativistas, como explicado no livro, são aquelas que existem para extrair recursos da maioria para beneficiar uma elite, impedindo inovações e avanços sociais e econômicos. Seja através de corrupção, supressão de liberdades civis ou sistemas jurídicos falhos que não protegem propriedades e investimentos, estas instituições perpetuam o poder e a riqueza em mãos de poucos, enquanto a sociedade em geral permanece empobrecida.
Por outro lado, as instituições inclusivas são aquelas que tendem a promover a prosperidade. Estas instituições são caracterizadas por incentivar a participação da população nas decisões políticas e econômicas, proteger os direitos de propriedade e promover a liberdade de expressão de ideias e inovações. Como resultado, criam um ambiente onde a inovação, o comércio justo e a educação se destacam, levando ao progresso econômico e ao bem-estar social.
O que é particularmente interessante na obra é como os autores usam essa dinâmica para analisar momentos históricos decisivos, ou “conjunturas críticas”. Estes são períodos de crise ou oportunidade que determinam o caminho que as nações seguirão.
Em momentos de crise ou oportunidade significativa, as instituições inclusivas são mais propensas a adaptar-se de maneiras que ampliam a inclusão. Por serem mais representativas, podem responder às crises de maneiras mais eficientes e que consideram o interesse de um segmento maior da população.
Já nas instituições extrativistas, o que frequentemente se observa é um reforço do controle, reprimindo qualquer movimento em direção à inclusividade. São rígidas e frágeis. A elite no poder pode aproveitar desse momento para reforçar seu sistema autoritário.
Um exemplo recente e relevante é a pandemia da COVID-19, que revelou a força ou fraqueza das instituições mundiais. Países como a Coreia do Sul, com suas instituições inclusivas, conseguiram não apenas responder de forma eficaz à crise de saúde, mas também fazê-lo de uma maneira que sustentou a confiança e a participação do público.
Em contraste, observamos a Hungria, que parece ter aproveitado a pandemia como uma oportunidade para reforçar suas instituições extrativistas. As medidas autoritárias adotadas pelo governo de Viktor Orbán, incluindo o controle sobre o judiciário, a mídia e os direitos de propriedade privada, ilustram como crises podem ser usadas para consolidar o poder e minar as liberdades, possivelmente levando a nação a um caminho de fracasso institucional.
“Por que as Nações Fracassam” não é só um livro de economia, é uma análise profunda de como as sociedades funcionam, como o poder é exercido e como as decisões políticas e econômicas podem afetar o destino de toda uma nação. É uma leitura necessária para qualquer pessoa que queira compreender a dinâmica da riqueza e da pobreza das nações, oferecendo insights valiosos sobre o mundo em que a humanidade habita.