Resenha Crítica – Por Leonard Batista, Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã
Saifedean Ammous é professor da Adnan Kassar School of Business na Lebanese American University. Em sua obra “O Padrão Bitcoin”, o autor expõe o fruto de suas pesquisas sobre as criptomoedas, em especial do Bitcoin.
Ammous explica com clareza, ao longo da obra, os motivos pelos quais o Bitcoin foi criado, e quais as forças que podem levá-lo a se tornar a base de um novo padrão monetário global, substituindo o dólar e até mesmo os Bancos Centrais.
Os sete primeiros capítulos do livro se concentram na história do dinheiro, desde a forma primitiva (como conchas, gado, sal), passando por metais preciosos (como prata e ouro) até a criação do dinheiro fiduciário. Dessa forma, Ammous busca evidenciar a importância do dinheiro em nossa vida e os problemas advindos da possível ausência deste, como a incapacidade de geração de riquezas e as trocas voluntárias.
De fato, com a criação do dinheiro vários problemas foram eliminados, mas a história não acaba aqui. Após um longo período em que vivemos o “padrão ouro”, no qual a moeda de uma nação era lastreada neste metal precioso, houve a adoção da moeda fiduciária que como o próprio nome remete, é baseada somente na confiança do Banco Central, e vem ao longo do tempo causando a perda de valor da moeda. Como exemplo ilustrativo, o valor do ouro, hoje, vem mais de sua função de reserva de valor como um bem monetário do que do seu uso industrial.
No entanto, com o surgimento da 1ª Guerra Mundial no início do século passado, os Estados precisavam se financiar, porém todo o ouro estava sob a posse de grandes bancos. Com o confisco global de boa parte do ouro, as moedas perderam o lastro. As moedas fiduciárias estatais ganharam hegemonia, e então o papel começou a circular como dinheiro criando inflação.
Uma moeda forte é aquela que mantém o poder de compra ao longo do tempo. Ela permite às pessoas a manterem os frutos de seu trabalho e economizarem. Vivendo em uma sociedade com moeda forte, as pessoas diminuem suas preferencias temporais, passam a postergar a gratificação imediata e começam a investir com suas poupanças.
O Bitcoin foi criado no contexto crise de 2008-2009 (quando grandes bancos foram “socorridos” pelo Banco Central americano). O principal objetivo é o de devolver ao indivíduo a soberania sobre seu próprio dinheiro e, portanto, sobre sua própria riqueza.
Como outras características, o Bitcoin não pode ser confiscado e não pode ser censurado. Só você pode movimentá-lo e, para isso, não precisa da autorização de ninguém. Seu sistema é ponto a ponto e descentralizado. Não existe nenhuma “autoridade monetária” que possibilita suas transações, tampouco nenhum governo pode imprimir mais dele, isto é, ele também não terá seu valor diluído. É muito caro criar bitcoins (por meio de um processo chamado de mineração) e sua emissão cai pela metade a cada quatro anos.
É impossível criar mais bitcoins, além daqueles autorizados pelo protocolo. Em breve, sua taxa de escassez será menor do que a do ouro, o que transformará o Bitcoin na moeda mais escassa do mundo e também a mais transportável, haja vista que ele pode ser transferido pela internet, por rádio e por satélite 24h por dia, 7 dias por semana.
Se, por um lado, muitos têm a expectativa de que os indivíduos vão finalmente poder voltar a acumular os frutos do seu trabalho em moeda forte e que a humanidade está convergindo espontaneamente para o padrão Bitcoin, por outro a sempre o ceticismo prático de que o ativo digital precisa ainda ser testado ao longo do tempo e aos desafios que virão.