Resenha Crítica – Por Elimar Fardin Lorenzon, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã
Dirigida por Davis Guggenheim, “O Código Bill Gates” é uma minissérie que retrata marcos e visões importantes da vida de um dos maiores gênios da atualidade, o Bill Gates, o fundador da Microsoft. A julgar pelo título ou mesmo pelo protagonista, pode ser que a expectativa seja por uma produção cinematográfica técnica que percorra pela história de sua mais conhecida entrega para a sociedade, a Microsoft. Contudo, Guggenheim explora o viés filantrópico e busca desvendar como é o funcionamento da mente de Gates, o que a primeiro momento, pode causar estranheza e até uma quebra de expectativa.
PRIMEIRAS PERCEPÇÕES
Muito além dos feitos de um dos homens mais ricos do planeta, revela-se o perfil humano e sonhos de uma criança emblemática que se tornou uma personalidade mundial. Desde sua infância, já demostrou claros indícios de sua genialidade. Sempre reconhecido por sua alegria, no oitavo ano da escola obteve a melhor nota em matemática do seu estado. Não apenas a melhor nota daquele ano, mas a melhor nota da história.
Essa inteligência, decerto, refletiu na busca por conhecimento durante toda sua vida. Bill pode ler até 150 páginas em uma única hora. Usualmente, ele transita entre cinco livros de temas diferentes ao mesmo tempo. Inclusive, é na leitura que seu conhecimento é expandido. Para todo lugar onde ele vai, os livros estão com ele, que inclusive, são trocados, ou melhor, renovados, semanalmente.
Esse traço, de fato, era percebido desde sua infância. Bill Gates facilmente passava o dia trancado em seu quatro lendo seus livros, refletindo. Entretando, não era bem compreendido por sua família, o que eventualmente ocasionava estranheza com sua mãe. Sua família sempre estimulava o esporte, o que também o fez praticar uma série deles: tênis, baseball, natação.
Em outros casos, narra-se que a família de Gates o forçava a estar em situações nas quais ele necessitasse de interagir com outras pessoas. Por mais que a situação de desconforto possa parecer negativa, pessoas próximas a ele afirmam que, essa postura da família tem um papel fundamental na pessoa em que ele se tornou.
MELINDA FRENCH GATES
Por trás de um grande homem, sempre tem uma grande mulher. Para o relacionamento de Bill com a mulher que se tornou sua esposa em 1994, certamente essa frase precisaria ser adaptada. Muito além de estar por trás de Bill Gates, Melinda se mostra uma mulher de extrema competência, de atitude firme e de postura admirável. O relacionamento dos dois foi marcado por relação de igual a igual, compartilhando ideias e projetos.
Melinda também mostrou seu prodígio. Graduou-se em ciência da computação aos 22 anos. Ainda jovem, já supervisionava uma equipe na Microsoft, onde conheceu Bill Gates em uma conferência. Ela narrou ter a percepção de que Bill era uma pessoa com uma grande armadura. E essa era também a visão que muitos tinham sobre ele na Microsoft, o que faz sentido, sabendo que muito jovem, precisou se adequar a grandes responsabilidades em uma empresa que se tornaria global. Para Melinda, muito além disso, enxergou em Gates um homem gentil e curioso. Fato interessante é que a nenhum momento ela se mostrou uma mulher intimidada, mantendo uma postura profissional e autônoma em decisões que não foram impactadas pelo cargo do presidente da Microsoft.
Para Bill Gates, que em várias falas reconhece e agradece pela parceria vivida com ela, a habilidade de lidar com pessoas melhor que ele é uma das características de destaque. O casal compartilhava o otimismo em sua visão de mundo e o interesse por ciências. Melinda e Bill tiveram três filhos, e apenas reclama de sua ausência como pai e como marido em situações em que ele concentrava energias na empresa e os deixavam sós, em casa.
Embora não abordado pelo documentário, por ser um fato futuro ao seu lançamento, Bill e Melinda se separam em 2020.
FILANTROPIA
Muito mais do que tecnologia e computação aplicada, a Filantropia é um assunto que ganha espaço no documentário e na vida de Bill Gates. Junto com sua esposa, criou em 2000, a Fundação Bill e Melinda Gates, voltado para causas relacionadas à educação, saúde e meio ambiente. Gates revelou o interesse para que todas as crianças do mundo sejam tratadas igualmente. Melinda revela o fato de que muitas crianças morrem por motivos que fogem às suas escolhas, como pelo fato de terem nascido na África e não nos Estados Unidos. No papel de mãe, destaca ainda a falta de medicamentos básicos, revelando como se sentiria vulnerável e impotente apenas por ter nascido em um país subdesenvolvido, por exemplo.
Milhões de dólares já foram gastos pelo Instituto com o objetivo de erradicar a Poliomielite. Para Bill, não atingir essa meta poderia colocar em descredito a medicina, a saúde e seu trabalho.
Outro problema que conquistou sua atenção foi em relação ao saneamento básico em países pobres. Ele tinha como objetivo de criar uma solução eficaz e acessível para o esgoto e água. Durante bastante tempo e dedicando muitos recursos, Bill se uniu com equipes de diferentes de engenheiros e profissionais para a prototipação de um sistema de tratamento de esgoto que atendesse a essas premissas.
O assunto energia também esteve presente em suas pautas. Para essa causa, fez apostas em energia nuclear, se envolvendo em algumas polêmicas ao longo de suas pesquisas e iniciativas.
Mais uma vez, sua mãe teve um papel fundamental nessa conduta de Gates. Desde cedo, ele foi estimulado a pensar em uma visão comunitária, que possivelmente tenha impactado sua preocupação com as causas abordadas por ele.
MICROSOFT
Na Microsoft, um dos interessantes desafios assumidos por Gates foi a criação de um código que otimizasse as grades de aulas dos alunos que se dividiam suas aulas entre dois campus. Entre as restrições, que eram inúmeras, vale evidenciar a distância entre os campus, disponibilidade dos professores, ou ainda, outros exemplos mais específicos como a impossibilidade de ter aula de bateria e coral ao mesmo tempo, por motivos de acústica, ou mesmo, o impedimento de um professor em ministrar quatro aulas seguidas.
Até então, esse problema era tratado de forma manual e primitiva, ocupando parte significativa do verão de funcionários, momento em que os estudantes estavam de recesso.
Mas Bill era um verdadeiro obstinado. Para ele, esse desafio ocupou horas de trabalho. Muitas vezes, dormiu em cima do próprio teclado e, ao acordar, mesmo parecendo perdido, continuava a escrever de onde tinha parado anteriormente. Sua forma intensa era conhecida por todos que o cercavam.
Nessa intensidade, se havia algo que ele não poderia ser exemplo, esse fato é a sua alimentação. Sempre consumindo alimentos ultraprocessados, refrigerante e até mesmo pós concentrados com alta adição de açúcar. Tudo isso, possivelmente, na prerrogativa de reduzir o tempo perdido e intervalos comendo.
Bill destacou que o primeiro software comercial rodado em um computador pessoal foi um marco para o nascimento da Microsoft.
Sua memória era extremamente fora da curva, o que o permitia lembrar da placa dos carros dos seus funcionários. Só em caminhar pelo estacionamento, sabia quem estava ou não na empresa. Para alguns, essa característica se mostrava um pouco controladora ao excesso.
Ainda muito jovem e com a Microsoft dando seus primeiros passos, Gates compartilhava uma preocupação similar a de muitos outros empresários aqui do Brasil: “Será que vou conseguir pagar o salário de todos os funcionários”?
PERSONALIDADE
Segundo alguns de seus amigos, Gates não sentia medos. Risco era uma palavra constante em sua vida profissional e pessoal. Já deslocou o ombro descendo vulcão no Equador. Não exibia temor de obstáculos ao descer de bicicleta nas montanhas. O mesmo acontecia quando praticava esqui.
Outra característica do empresário era que nunca se atrasava. Para ele, o tempo é a única comodity que ele não pode comprar.
Ganhando notoriedade e pesadas responsabilidades ainda bastante jovem, sempre precisava dedicar de tempo para refletir e organizar suas ideias. E a maneira como ele melhor fazia isso era por meio de caminhadas. Inclusive, dentro da própria casa, como declarou Melinda. Ao falar de preocupações pessoais, ele declara que seu maior medo é que seu cérebro pare.
Assim como Steve Jobs, que tem sua biografia marcada por algumas polêmicas, Bill Gates também recebe críticas por alguns de seus comportamentos. Um deles é o fato de achar que a tecnologia resolveria tudo. Também há registros de relacionamentos pessoais e profissionais, seja com sua mãe, sua ex-esposa, ou mesmo com seu amigo e cofundador da Microsoft, Paul Allen, no qual teve alguns momentos de desentendimentos ao longo de sua carreira.
Claro que a fama de gênio também não foi unanimidade e nem durou para sempre. Para muitos, ele é acusado de Monopólio. Alguns outros temas também dividiram opiniões, como seu interesse por energia nuclear e as parcerias firmadas para pesquisa e compartilhamento de ideias sobre o assunto.
Apesar de apenas três capítulos de aproximadamente uma hora cada um, o documentário reúne fatos importantes da história de Bill Gates. Com depoimentos de amigos, relatos interessantes de seu trabalho filantrópico e alguns de seus anseios e erros registrados por uma série de questionamentos que são respondidos por Gates ao longo das cenas. A mente de uma das personalidades mais importantes da atualidade, certamente, tem muito a nos ensinar, e minissérie se encarregou de integrar de forma muito satisfatória os fatos passados, pessoas de influência na sua vida e seus sonhos ainda em construção.