Resenha Crítica – Por Tito Kalinka, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã
O Chamado da Tribo é um livro escrito pelo Nobel de literatura Mario Vargas Llosa. Nasceu em 1936, na cidade de Arequipa, no Peru. Llosa é escritor, político jornalista, ensaísta e professor universitário. Um dos romancistas mais importantes da América Latina e um dos principais escritores de sua geração.
O livro traz uma biografia de sete pensadores que acreditavam na democracia liberal e na luta pela liberdade. São eles: Adam Smith, José Ortega y Gasset, Friedrich August Von Hayek, Sir Karl Popper, Raymond Aron, Sir Isaiah Berlin e Jean-François Revel. Narrado em primeira pessoa, o Chamado da Tribo descreve em oito capítulos a vida intelectual e política do autor. A juventude dele foi marcada pelo marxismo e existencialismo, mas, aos poucos, esse fascínio se transformou em decepção. Depois de ir para Havana cobrir a Crise dos Mísseis de 1962, presenciar a pobreza e a injustiça na URSS e receber uma carta pessoal de Fidel Castro acusando-o de estar a serviço do imperialismo ao tentar defender Padilla – poeta preso pelo regime de Castro, acusado falsamente de ser agente da CIA, Llosa começa a se afastar do socialismo.
No capítulo sobre Adam Smith, Llosa destaca o papel de Smith na economia e na filosofia política. Conhecido como o pai da economia moderna, Smith tem como sua obra principal a “Riqueza das Nações”, a qual traz o conceito de “mão invisível do mercado” e a ideia de que, através da busca individual do próprio interesse, as pessoas contribuem para a prosperidade da comunidade. No livro, Llosa aborda as ideias de Smith sobre o livre mercado, a divisão do trabalho e o autointeresse influenciaram o pensamento econômico e político ao longo dos séculos. Discute o contexto histórico em que Smith viveu, como a Revolução Industrial e as mudanças econômicas e sociais da época.
No capítulo sobre José Ortega y Gasset, o autor traz um apanhado sobre a vida de Gasset e seu impacto intelectual e político dentro da Espanha e na Europa. Gasset foi um filósofo e ensaísta espanhol, conhecido por suas contribuições à teoria do conhecimento e à filosofia da história, tendo como sua principal obra “A rebelião das massas”. Llosa traz a visão de Gasset sobre a cultura espanhola e europeia e a sua conhecida análise crítica da condição humana e na necessidade da comunidade se envolver ativamente na cultura e na política.
No capítulo sobre Hayek, Llosa explora as ideias sobre liberalismo clássico e livre mercado. Hayek era um grande crítico dos regimes totalitários e socialistas. Representante da Escola Austríaca de Economia, foi um grande pensador da sua época e suas ideias ecoam sobremaneira até os dias atuais. O planejamento centralizado, na sua visão, tirava a liberdade individual e somente com a economia de mercado seria possível prosperar. Suas ideias ajudaram a moldar o pensamento econômico e político dos EUA e da Inglaterra.
No capítulo sobre Popper, o autor mostra a grande contribuição do pensador para a filosófica científica. Popper dizia que primeiro deve vir a evidência empírica e, somente após, a teoria deveria ser desenvolvida. Toda ideia seria falsa até que seja provada empiricamente. Era um grande crítico do positivismo lógico e do cientificismo. A importância de se poder refutar e criticar uma teoria moldou a maneira como a ciência seria realizada e como teorias deveriam ser desenvolvidas e testadas. Popper também era crítico em relação a uma sociedade com planejamento central e, inclusive, uma de suas obras traz o conceito de sociedade aberta como uma crítica ao totalitarismo.
No capítulo sobre Aron, Llosa apresenta um liberal incorrigível, como o próprio se denominava. Lutava pelas liberdades individuais e pelo debate, sem extremismos. Aron se destacou como sociólogo e filósofo. Sua principal obra, “O ópio dos intelectuais” é um contraponto ao ópio do povo de Marx, como ele se referia à religião. O marxismo seria o ópio dos intelectuais e o “mito do proletariado” contido em seu livro refuta a ideia de que, quando os trabalhadores chegassem ao poder, seria uma época de prosperidade e harmonia, o que, de fato, não aconteceu, como no caso da URSS.
No capítulo sobre Berlin, o autor traz a importância desse grande filósofo político e historiador. Se tratava de um grande defensor das liberdades e do pluralismo. Talvez a sua maior contribuição seja a distinção entre liberdade “negativa” e “positiva”. A liberdade “negativa” refere-se à ausência de coerção, sendo livre para escolher sem pressão externa. Já a liberdade “positiva” é a liberdade em ser seu próprio senhor, com o sujeito sendo responsável pelos seus atos e ser capaz de justificá-los a partir de seus valores. Berlin argumenta que a busca excessiva pela liberdade “positiva” poderia levar a formas de autoritarismo, enquanto a “negativa” era essencial para evitar a opressão.
No capítulo sobre Revel, Llosa traz a batalha do jornalista francês contra o obscurantismo e a opressão. Revel defendia a democracia liberal e a irrestrita liberdade de expressão e deixava claro seu ceticismo em relação ao totalitarismo e ao comunismo. O jornalista trouxe uma grande contribuição para que a transparência e o escrutínio público se tornassem peças fundamentais para manter a liberdade e abusos de poder.
O livro O chamado da tribo é ótimo para conhecer pensadores pouco conhecidos dentro do mundo das ideias liberais e traz conceitos fundamentais para passar pelos tempos sombrios que o mundo se encontra, tendo liberdades individuais vilipendiadas cotidianamente.