Blog do Instituto Líderes do amanhã

Acompanhe as atualizações

Resenha – Mil Novecentos e Oitenta e Quatro

Resenha Crítica – Por Brigida Roldi Passamani, Associada II do Instituto Líderes do Amanhã

Eric Arthur Blair, mundialmente conhecido pelo pseudónimo George Orwell, foi um escritor, jornalista e assíduo frequentador da política inglesa, nascido em Motihari, na Índia Britânica, autor da obra Mil Novecentos e Oitenta e Quatro, publicada originalmente em 1949, com o título Nineteen Eighty-Four.

O romance distópico é o último de George Orwell, que faleceu prematuramente sem colher os louros da obra, considerada por muitos, ao lado de A Revolução dos Bichos, o prenúncio da implosão do regime soviético stalinista, muito embora jamais tenha sido um consenso entre seus críticos ser Orwell um inteiro defensor das liberdades, do capitalismo ou do Ocidente.

De todo modo, navegando pelas similaridades entre realidade e distopia, típicas do século XX, o romance ambienta-se no território britânico rebatizado Oceânia, governado pelo Partido, cujo regime ultra totalitário suprime não apenas a liberdade dos cidadãos em todas as suas esferas, como essencialmente a percepção dos sujeitos enquanto indivíduos.

Acompanhando o fatigante cotidiano do protagonista Winston Smith, as amarras do Partido e do que virá a ser a ideologia IngSoc são apresentadas ao leitor a conta-gotas: restrições ao direito de ir e vir, supressão da privacidade e da intimidade, supressão dos relacionamentos interpessoais e intrafamiliares, estratificação da sociedade, abolição da iniciativa privada e da religião, planejamento da economia, escassez alimentícia e de suprimentos de toda ordem, sucateamento tecnológico, manipulação da linguagem e, não fosse suficiente, mortes sumárias a todos que representassem o menor risco à hegemonia do Grande Irmão.

Os instrumentos para tamanhos feitos são vários. As “teletelas” ininterruptamente monitoram a vida dos cidadãos, captando desde as conversas mais corriqueiras até os atos de traição mais discretos. A Polícia do Pensamento faz prisioneiros todos os que não esboçam a menor simpatia pelo regime, por meio da correção ideológica através do medo. A “novilíngua” encurta o vocabulário da nação, enfraquecendo-a intelectualmente, ao eliminar palavras e verbos, alterar seus significados e os substituir por junções e abreviações cada vez mais desconexas.

O governo é dividido em quatro Ministérios, cujos títulos representam o exato oposto do que propagandeiam. O leitor conhecerá o Ministério da Verdade (responsável pela falsificação de documentos e literatura que possam servir de referência ao passado), o Ministério da Paz (responsável pela guerra), o Ministério da Fartura (responsável pela economia) e o Ministério do Amor (responsável pela espionagem e controle da população). O mundo é dividido entre amigos e inimigos do Partido, estando o Grande Irmão no controle de todas as facetas da nação.

Na obra, não é possível ter certeza do passado ou ter acesso à verdade racional, não é possível pensar e escolher, tampouco amar e conviver. Tais atos representam, na verdade, deslealdade ao Estado, que os pune exemplarmente. Não por outra razão, Smith paga o preço da rebeldia imprudente gerada pela íntima afeição que desenvolve pela sua colega de trabalho, ao ansiar por um final feliz que poucos, fora da trama, puderam experimentar diante da crueldade dos regimes totalitários.

A obra não deixa claro se existem os que resistiram à baixeza imposta pelo sistema, fazendo de desertores, como Emmanuel Goldstein, lendas nas quais não se pode confiar. Orwell, que permeia a narrativa com inúmeros pontos de interrogação, leva o leitor a compartilhar a sufocante encruzilhada na qual se encontram os personagens do livro, que acabam sucumbindo, de forma ou de outra, ao sistema.

A subversão dos valores naturais ao homem é traduzida pelo lema do Partido, “Guerra é Paz; Liberdade é Escravidão; Ignorância é Força”. E, se por um lado a utopia é um cenário de concretização absoluta de valores que pautam a humanidade, uma distopia é seu exato oposto. Nela, se tem a corrupção absoluta desses valores, levando à degradação do próprio homem, evidenciada a cada página do livro.

Autor

Brigida-Roldi-Passamani

Brigida Roldi Passamani

Associada II

Passamani & Bermudes Advocacia

Últimos artigos e notícias

André Hemerly Paris

15/10/2024

Emilio Henrique Stein Junior

08/10/2024

Matheus Gonçalves Amorim

08/10/2024

Emilio Henrique Stein Junior

08/10/2024

Emilio Henrique Stein Junior

08/10/2024

Inscreva-se na Newsletter