Resenha Crítica – Por Leonard Batista, Associado Alumni do Instituto Líderes do Amanhã
Michael J. Sandel é professor da Universidade de Havard. Em sua obra “Justiça – o que é fazer a coisa certa”, fruto de seu curso na instituição, ele incita seu público a refletir sobre suas próprias convicções, apresentando visões sobre a justiça e a relação dessa com a política, economia e a moralidade.
Sandel apresenta ao leitor uma série de casos, alguns reais, outros fictícios, com o objetivo de promover reflexões filosóficas acerca dos entendimentos sobre justiça e os princípios em que essa justiça é baseada.
No caso do furacão Charley, percebeu-se um aumento de preços de várias mercadorias. Valores de diárias de quartos de hotel e consertos de telhados são alguns dos exemplos citados no livro que sofreram aumento no seu preço. Fato que ocasionou revolta na população da Flórida, que reclamaram ao Estado por meio da lei contra preços abusivos da cidade. Os preços elevados em meio a uma situação difícil, como a gerada pelo furacão, promoveram uma série de pedidos de intervenção do Governo.
Por outro lado, defensores do livre mercado afirmavam que a lei contra preços abusivos era um equívoco, assim como a ira pública, pois os preços são fixados de acordo coma oferta e a procura. Nesse sentido, portanto, não seria uma questão de ganância mercadológica o fato de cobrar mais pela mercadoria naquela situação, mas simplesmente um reflexo do modo de funcionamento do mercado. Com isso, o autor provoca questionamentos importantes sobre moral e lei.
Para Sandel, questões como essa referem-se à Justiça e se baseiam em três pontos principais: bem-estar, liberdade e virtude. No exemplo do furacão, ele comenta que os contrários às leis de preços abusivos baseiam suas argumentações principalmente nos postulados de bem-estar e liberdade, enquanto os favoráveis, além de apresentarem essas mesmas proposições, ainda contam com a virtude como argumento. O autor aponta a virtude como um importante aspecto, pois essa é um elemento moral que por vezes, influencia o comportamento e o modo de pensar humano.
Outro exemplo é a crise financeira de 2008-2009, que promoveu profundas modificações, principalmente financeiras, na vida de bancos e instituições da Wall Street e de simples cidadãos. A polêmica aqui acontece quando as instituições financeiras, culpadas pela crise, recebem dinheiro do congresso com o objetivo de se recuperar. Ninguém concordava que esse dinheiro fosse repassado, pois achavam ser injusto recompensar a quem acreditavam ser os responsáveis pela crise. Mais indignação pública ocorreu quando foi descoberto que, com o empréstimo, as empresas continuaram a fornecer altos bônus em dinheiro a altos executivos. Estes, por sua vez, consideravam esse ato correto. Entretanto, críticas intensas foram direcionadas a tal atitude, pois as pessoas achavam inaceitável recompensar a ganância e o fracasso, vistos como defeitos morais daqueles que aceitaram a recompensa.
Sandel aborda esses casos para demonstrar que no âmago de discussões como essas, encontram-se valores morais que fundamentam o pensamento das pessoas e, por vezes, contrapõem-se aos argumentos de liberdade sustentados por muitos. Com isso, ele analisa as visões diferentes que cada um possui acerca da justiça. Estas divergências, para ele, são essenciais, pois são elas que fazem nascer a reflexão filosófica e moral, tal como nos casos já mencionados anteriormente.