Resenha com Case Prático – Por Filipe de Barros B. Busatto, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã
A Revolução dos Bichos, publicada em 1945, é uma das obras mais conhecidas de George Orwell, considerada pela Revista Time como um dos 100 melhores romances da língua inglesa. Um clássico que transcende fronteiras geográficas e temporais, capaz de ser compreendido por qualquer geração.
No início da narrativa, o leitor depara-se com a convocação de uma reunião liderada pelo porco Major, descrito pelo autor como “um porco de porte majestoso, com um ar sábio e benevolente, apesar de suas presas jamais terem sido cortadas”. O discurso do Major imediatamente associa-se a Karl Marx, e mesmo após sua morte, poucos dias depois da convocação, ele consegue plantar a semente da revolução na mente dos animais da fazenda. Utilizando apelos comuns aos doutrinadores do comunismo, como justiça social e críticas ao Capitalismo, personificado no Sr. Jones, proprietário da Granja do Solar.
Com a morte do idealizador, Bola de Neve e Napoleão assumem a liderança. Outras figuras ganham destaque, como Garganta, um porco gordo porta-voz da revolução; Mimosa, a égua preocupada com seu status quo; Moises, o corvo representante da religião; e os cavalos de tração Sansão e Quitéria, simbolizando os trabalhadores que seguem cegamente os líderes.
Os novos líderes, nos três meses após a morte do idealizador, doutrinam os que objetavam, aproveitando-se da mudança no comportamento do administrador da fazenda, que, após um processo judicial, passa a beber em excesso, chegando ao ponto de negligenciar a alimentação dos animais.
O conflito atinge seu ápice em um episódio violento contra os animais, levando à expulsão dos humanos da Granja do Solar, renomeada como Granja dos Bichos. Os porcos no poder estabelecem sete mandamentos para reger a convivência sob o Animalismo.
Inicialmente, tudo parece ideal. A produtividade aumenta, o desperdício cessa e a satisfação no consumo cresce sem a presença humana exploradora e as desigualdades. Contudo, em pouco tempo, Napoleão e Bola de Neve flexibilizam regras em seu favor, reservando leite e maçãs exclusivamente para os porcos, alegando serem essenciais para sua saúde.
A trama desenvolve um conflito crescente entre as lideranças, tornando-se insustentável quando Bola de Neve sugere a construção de um moinho para facilitar a vida dos animais. Napoleão se opõe, expulsando Bola de Neve de forma violenta.
Napoleão governa sozinho, apropriando-se da ideia de Bola de Neve e pintando-o como culpado por todos os problemas. Nesse ponto, a figura de Trotsky em Bola de Neve e de Stálin em Napoleão torna-se evidente, refletindo posturas autoritárias, violentas e corruptas.
A administração de Napoleão torna-se cada vez mais rígida, prejudicando os outros animais, ao ponto de tornar-se difícil distinguir humanos de porcos no poder.
Ao concluir a leitura, fica claro que George Orwell não apenas oferece uma narrativa envolvente, mas também proporciona uma reflexão profunda sobre a natureza humana e os perigos do poder desenfreado.
Através da alegoria dos animais, o autor destaca como as promessas iniciais de liberdade e igualdade em regimes populistas podem ser distorcidas pela ambição e corrupção.
Mesmo escrita há anos, as lições da obra permanecem atuais, tornando-a indispensável para quem busca refletir sobre as armadilhas do poder para aqueles que não conseguem lidar com as fragilidades da condição humana e carecem de princípios e valores sólidos.
Case prático
Uma empresa decidiu implementar um sistema de aquisição de cotas da empresa pelos seus funcionários. O objetivo era não apenas compartilhar os lucros, mas também cultivar um ambiente onde os colaboradores se tornassem responsáveis individualmente pelo próprio sucesso ou insucesso.
Com isso, todos os colaboradores escolhidos para integrar esse plano passariam a ser informados sobre os desafios e riscos enfrentados pela empresa, sendo incentivados a contribuir com ideias e soluções para superá-los. Em resumo, precisariam arriscar mais a própria pele, ao ponto que sua remuneração poderia sofrer variações, dependendo dos resultados financeiros da empresa.
Com a leitura da Revolução dos Bichos, os acionistas majoritários se preocuparam com a forma como esses novos sócios reagiriam ao poder. Questionaram se haveria uma mudança na forma de tratar os demais funcionários, se haveria mudança na forma de tratar os demais sócios, e se mudariam suas entregas habituais.
Assim, optaram por contratar uma consultoria jurídica para garantir que esse processo fosse o mais seguro possível para todas as partes, prevendo a forma de entrada desses sócios, a forma de exclusão (caso necessária), a preferência na tomada de decisões, entre outros assuntos.
Nesse cenário, a empresa pode promover um ambiente com maior responsabilidade individual, e a mitigação conjunta de riscos foi uma estratégia eficaz para envolver os colaboradores na gestão dos desafios. Isso permitiu um crescimento sustentável e uma cultura empresarial dinâmica e colaborativa, sem colocar em risco a perenidade da companhia e a boa relação entre os acionistas.