Resenha Crítica – Por Ivan Takao Oikawa, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
Nassim Nicholas Taleb é um estudioso, filósofo e estatístico libanês-americano, cresceu em uma família cristã libanesa de ascendência grega e armênia. Frequentou a Universidade de Paris, onde estudou Matemática, Filosofia e Ciências Políticas, e, posteriormente, obteve um MBA pela Wharton School da Universidade da Pensilvânia e um PhD em Ciência da Informação pela Universidade de Paris.
Taleb trabalhou como operador de mercado financeiro antes de se tornar um escritor em tempo integral e acadêmico. Ele é mais conhecido por seu trabalho em teoria da probabilidade, estatística, gestão de risco e tomada de decisões, e seus livros “O Cisne Negro”, “Enganados pelo Acaso” e “Antifrágil” foram best-sellers internacionais.
Ele popularizou o conceito de “cisne negro”, que se refere a um evento raro, imprevisível e altamente impactante que é difícil de prever ou se preparar para.
Na obra “Arriscando a própria pele”, o autor explora a ideia de que aqueles que tomam decisões devem arcar com as consequências dessas decisões. Ele argumenta que isso é essencial tanto para a justiça quanto para a eficiência, pois garante que os que estão no poder sejam responsabilizados por suas ações.
Taleb argumenta que muitas pessoas no poder, sejam elas políticos, CEOs ou investidores, não estão arriscando suas próprias peles quando tomam decisões. Eles estão protegidos por uma rede de segurança que inclui seus empregos, riqueza ou posição social. Isso pode levar a decisões irresponsáveis e a falta de responsabilização por suas ações.
O autor também aborda o conceito de simetria como um aspecto importante para entender a ideia de ter “skin de game“. Para Taleb, a simetria se refere à equivalência entre riscos e recompensas para as partes envolvidas em uma transação ou interação.
Segundo Taleb, é importante que as pessoas tenham simetria em suas relações comerciais, políticas e sociais. Isso significa que, se uma pessoa está assumindo um risco, ela também deve ter a possibilidade de obter uma recompensa proporcional caso sua aposta se concretize. Por outro lado, se uma pessoa está exigindo uma recompensa por um serviço prestado, ela também deve assumir um risco caso o serviço não atenda às expectativas.
A falta de simetria pode levar a relações desiguais e injustas, nas quais uma parte está assumindo mais riscos do que a outra, sem a possibilidade de obter uma recompensa proporcional. E pode ser perpetuada ou agravada pela crença na superioridade do conhecimento acadêmico ou científico sobre outras formas de conhecimento
Deste modo, o autor faz severas críticas ao “cientificismo”, ou seja, a ideia de que alguns grupos acadêmicos, economistas e psicólogos que estão desconectados da realidade acreditam que é possível fazer ciência apenas por meio da própria ciência.
Taleb critica modelos matemáticos e estatísticos como soluções eficazes para lidar com a incerteza do mundo real, apontando uma abordagem excessivamente focada em questões econômicas e financeiras. No entanto, apesar de suas críticas, Taleb não apresenta alternativas práticas e efetivas para abordar essas questões. O autor é mais eficaz em apontar problemas e destacar a incerteza do que em oferecer soluções concretas, as quais também podem não ser facilmente aplicáveis em todos os contextos ou setores.
Além disso, Taleb também usa o termo “IPI” (Intelectuais Porém Idiotas) para se referir a pessoas que possuem uma grande quantidade de conhecimento em áreas específicas, mas que não conseguem aplicar esse conhecimento de forma prática ou relevante para a sociedade em geral.
Para Taleb, os “IPI” são pessoas que vivem em um mundo de ideias e teorias, mas que não possuem experiência prática suficiente para entender as implicações de suas ideias. Eles tendem a falar sobre temas complexos e abstratos com muita segurança e convicção, mas não conseguem lidar com questões mais simples ou práticas da vida cotidiana.
Segundo Taleb, os “IPI” são perigosos porque frequentemente estão envolvidos em tomadas de decisão importantes que afetam a vida de muitas pessoas, como políticos, burocratas, jornalistas, acadêmicos e especialistas em finanças. Essas pessoas tendem a tomar decisões com base em teorias complexas, sem considerar as implicações práticas e as consequências de suas ações.
Taleb argumenta que os “IPIs” “tendem a ser arrogantes e desprezam aqueles que não compartilham suas visões ou níveis de conhecimento”, o que pode levar a problemas sociais e políticos. Eles podem afetar negativamente as minorias.
Segundo o autor, as minorias são um grupo de indivíduos que possuem um conjunto de características ou ideias que são diferentes da maioria. A sua obra exalta sua importância, pois, embora as minorias possam enfrentar oposição e resistência por parte da maioria, é importante que elas continuem a defender suas ideias e a lutar por mudanças. Além disso, comumente as minorias levam a maioria a se sujeitar às suas vontades. Ele destaca que muitas vezes são responsáveis por impulsionar a evolução social e tecnológica e que, sem elas, a sociedade pode se tornar estagnada e complacente.
Da mesma forma, a antropóloga Margaret Mead, afirma que mudanças significativas na sociedade eram frequentemente impulsionadas por pequenos grupos de pessoas que tinham uma visão clara do que queriam alcançar e trabalhavam incansavelmente para alcançá-la.
As ideias sustentadas pelas minorias podem parecer radicais ou controversas no presente, mas, com o tempo, podem ser comprovadas como verdadeiras ou valiosas. O autor sustenta a perenidade das ideias através do “efeito Lindy”. A ideia de que a vida útil de uma ideia ou sistema é proporcional à sua idade atual. Em outras palavras, quanto mais tempo uma ideia ou sistema existir, maior será a probabilidade de que continue a existir no futuro.
O termo “Lindy” refere-se originalmente a um teatro de Nova York onde os comediantes se reuniam. A ideia por trás do “efeito Lindy” é que, se algo é durável o suficiente para sobreviver por um certo período, a probabilidade de que sobreviva por um período adicional é maior.
Na obra, Taleb argumenta que o “efeito Lindy” é uma forma de prever a longevidade de um sistema ou ideia, e que a sociedade precisa ser consciente disso ao tomar decisões.
O autor argumenta que as pessoas tendem a subestimar a importância do efeito Lindy, especialmente quando se trata de tomar decisões importantes. Ele sugere que as pessoas devem levar em consideração a longevidade de um sistema ou ideia ao tomar decisões, em vez de se concentrar apenas nas tendências atuais.
Por exemplo, se um determinado sistema econômico ou político existe há séculos, pode haver uma maior probabilidade de que ele continue a existir no futuro. Isso pode ter implicações importantes para as decisões políticas e econômicas que são tomadas atualmente.
O “efeito Lindy” é especialmente relevante quando se trata de religião. Afinal, as religiões sobrevivem há séculos, mesmo que muitas de suas crenças e práticas possam parecer irracionais ou arriscadas para alguns. Mas, como o tempo é o melhor juiz da validade de uma ideia, as religiões que sobrevivem e se mantêm relevantes ao longo do tempo podem oferecer benefícios que talvez não sejam óbvios à princípio.
O autor discute o papel da religião na sociedade e argumenta que, embora muitas vezes seja considerada irracional, a religião pode ser vista como uma forma de gerenciar o risco. Ele sugere que a religião oferece uma estrutura de crenças e práticas que ajudam as pessoas a lidar com a incerteza e a complexidade da vida.
Por fim, podemos concluir nessa obra que arriscar a própria pele é ter a verdadeira responsabilidade individual. Essa responsabilidade é essencial em todos os aspectos da vida, inclusive na tomada de decisões e na gestão de riscos. Devemos assumir nossas escolhas e arcar com as consequências, buscando sempre a simetria e considerando diferentes perspectivas e opiniões. Além disso, devemos pensar no longo prazo e nos efeitos futuros de nossas ações, evitando o imediatismo e a superficialidade.