Resenha Crítica por Hermes Vinícius Fim, Associado I do Instituto Líderes do Amanhã
Nascida em fevereiro de 1905, na Rússia, com o nome de Alisa Zinov’yevna Rozenbaum, a autora de “A Revolta de Atlas” se mudou no ano de 1925 para os Estados Unidos, onde assumiu o nome de Ayn Rand, trabalhou inicialmente como roteirista de cinema e de teatro em Hollywood. Entretanto, foi como escritora que ela tornou seu legado irrepreensível para a humanidade. A fama de Rand se iniciou com a obra “A Nascente”, de 1943, e, em 1957, lançou sua obra principal “A Revolta de Atlas”. Este é considerado um dos livros mais influentes nos Estados Unidos. Em um levantamento realizado em 1991 pelo Month Club e a Library of Congress, a obra-prima de Rand ficou em segundo lugar, atrás somente da Bíblia, como o livro mais influente na vida dos leitores. Atuando como filósofa em tempo integral, Ayn Rand foi a idealizadora do Objetivismo, sistema filosófico que defende as virtudes do autointeresse racional, tais como o pensamento independente, a produtividade, a justiça, a honestidade e a autorresponsabilidade.
“A Revolta de Atlas” é um romance ambientado em um cenário no qual o pensamento coletivista e a intervenção governamental têm dominado o mundo. Os Estados Unidos são a última nação que respira o capitalismo e a liberdade. Mas, no decorrer do livro, o intervencionismo tem ganhado cada vez mais forças no país norte americano. Isso tem causado a repressão da liberdade individual e do livre mercado. O romance é composto por personagens muito bem desenvolvidas quanto suas características e motivações. Cada uma tem um relevante papel para o desenrolar da história. É possível identificar, em algumas personagens, os princípios que norteiam o objetivismo. Em outras, há o destaque de ideias que vão contra a essência defendida pela filosofia de Rand.
A heroína do romance é Dagny Taggart, vice-presidente de operações da empresa ferroviária Taggart Transcontinental, uma mulher determinada e corajosa. Possui o pensamento em inovação e produtividade. Toma decisões baseadas na razão e luta por sua felicidade. Fiel a seus princípios, ao longo da história ela não se curva à corrupção e aos desmandos dos governantes, com foco claro em seus objetivos. Para os que estudaram um pouco sobre Ayn Rand, a associação de Dagny com a figura da autora é algo inevitável. Isso se dá pela índole, por algumas características físicas e por hábitos descritos da personagem. Pode-se, assim, ter a visão de que a protagonista seria uma representante da própria filósofa no romance.
O irmão de Dagny e presidente da Taggart Transcontinental, James Taggart, é o oposto da heroína, um empresário que não consegue compreender a importância de inovar como forma de garantir a sustentabilidade econômica do negócio. James toma decisões não embasadas em fatos e dados, somente na emoção e amizades e prega que é imoral pensar em lucro antes do bem coletivo. Por sua empresa ter grande renome, ele aproveita de seus contatos no governo para fazer acordos e obter benefícios.
Um empresário oposto a James é Hank Rearden: um magnata da indústria siderúrgica e inventor do metal Rearden, uma liga metálica mais leve, duradoura e barata do que o aço. Mas, apesar das vantagens de sua invenção, o empresário esbarra nos obstáculos da burocracia para escalar seu produto no mercado. Também precisa sustentar vários aproveitadores, os quais só ficam esperando uma oportunidade para lhe prejudicar. Hank tem um perfil inovador, racional e apaixonado pelo seu trabalho. Com personalidade similar à de Dagny, os dois vivem um envolvimento e lutam juntos pelos ideais que defendem.
Dagny também possui um relacionamento próximo com Francisco d’Anconia, herdeiro da D’Anconia Copper, maior mineradora de cobre do mundo. Amigo de infância da protagonista, sempre priorizou seu trabalho, até o momento que assume a personalidade de um playboy que busca viver sem preocupações. Mas seu verdadeiro caráter é revelado, sendo possível identificá-lo como um defensor do livre mercado, da liberdade e do pensamento racional.
Um questionamento que surge no início da obra e segue durante seu desdobramento é “quem é John Galt?”. A pergunta é sempre feita no intuito de desviar sobre determinado assunto incômodo ou complexo, devido ao fato que na maior parte da história, ninguém possui a resposta. Isso muda quando o próprio John Galt surge. Ele pode ser compreendido como a personificação dos ideais objetivistas, por trazer, em si, o egoísmo racional e a sua luta para libertar os indivíduos que produzem da exploração daqueles que querem viver de privilégios. Galt lidera um movimento que seleciona os indivíduos produtores e os leva para um local chamado Atlântida, onde podem viver de acordo com os princípios do livre mercado e da liberdade individual.
A obra magna de Rand apresenta de forma envolvente os conceitos de egoísmo racional, busca pela felicidade, ética, produção e inovação de acordo com a ótica do objetivismo, mostra a existência de uma classe que se escora em legislações para viver à custa daqueles que produzem, o que promove a prática da exploração e espoliação legal. Além disso, ilustra como os burocratas governamentais podam o crescimento tecnológico com o discurso de bem-estar coletivo, quando o real interesse está em beneficiar aqueles com os quais possuem acordos. John Galt, em seu discurso de quase 80 páginas, expõe os sentimentos da classe produtora em relação a todo abuso de poder que sofre, a qual possui como único plano de carreira aproveitarem-se do trabalho e produção dos outros.
O nome “A Revolta de Atlas” é baseado em “Atlas”, da mitologia grega, o qual sustenta o mundo em suas costas, assim como muitas pessoas talentosas que, através de suas criações e de responsabilidades com seus trabalhos, permitem criar uma sociedade com qualidade de vida cada vez melhor. Ou seja, sustentam o desenvolvimento global, mas são vistos como vilões. Desse modo, o título do livro faz uma perfeita conexão com a rebelião ocorrida no desdobramento da história.
Além da compreensão dos princípios e ideais do objetivismo, pode-se tirar, da obra de Rand, lições sobre gestão. Desde o início, fica evidenciado que, ao gerir uma empresa, é necessário ser racional. Deve-se buscar fornecedores que cumprem prazos e possuem preços competitivos, ao invés de deixar as relações pessoais prevalecerem sobre a estratégia comercial do negócio. A autora também defende que, se não olhar para a necessidade do cliente, outras empresas darão atenção a isso e tomarão a fatia do mercado. Por isso, é preciso ser inovador, buscar formas de estar sempre entregando valor para o cliente e reduzir custos. Faz-se necessário desenvolver características e contratar profissionais que se aproximam de Dagny e Hank, e se afastar de qualquer semelhança a James Taggart. Dessa forma, ler “A Revolta de Atlas”, além de expandir o conhecimento sobre a compreensão do indivíduo, o egoísmo racional e a ética, também permite evoluir como gestor.