Resenha Crítica – Por Tito Dias Kalinka, Associado II do Instituto Líderes do Amanhã
“Ideias e somente ideias podem iluminar a escuridão.”
Pelas suas ideias amplamente liberais e por viver em um local que estava caminhando para a escuridão nazista, o autor do livro “A Mentalidade Anti Capitalista”, Ludwig von Mises, se viu obrigado a imigrar para os Estados Unidos da América em 1940, tendo inclusive sido alvo de uma tentativa de sequestro antes de abandonar seu país. Um dos faróis do liberalismo do século XX e expoente da escola austríaca, começou a ser muito criticado ao lecionar na Universidade de Viena no início de sua carreira acadêmica por ser pró-capitalismo, mas isso não o abalou na construção de sua história. Não por acaso, o autor escreveu várias obras de grande impacto no século XX, as quais não terão seus efeitos somente no passado.
Mises divide o livro em quatro capítulos, abordando diferentes visões sobre o porquê o capitalismo é sempre tão fortemente atacado, mesmo por quem aproveita todas as benesses do sistema. São eles: “as características sociais do capitalismo e as causas psicológicas da sua difamação; a filosofia social do homem comum; a literatura sob o capitalismo; as objeções não-econômicas ao capitalismo.”
No primeiro capítulo, o autor traz a ideia de que a principal característica do capitalismo moderno é a produção em escala de bens destinados ao consumo das massas. O resultado é uma tendência à melhoria contínua do padrão de vida médio e o enriquecimento progressivo de muitos. O capitalismo “desproletariza” o homem comum e o eleva à posição de “burguês”. O consumidor é sempre soberano, e o controle dos meios de produção é uma função social sujeita à confirmação ou revogação pelos consumidores soberanos. Os empresários e capitalistas devem suas riquezas aos consumidores que sustentam seus negócios. Eles a perdem, inevitavelmente, tão logo outras pessoas os substituam, servindo melhor e de forma mais barata aos consumidores.
O ressentimento dos intelectuais também é muito citado. Para eles, os sentimentos de ambição frustrada tornam-se especialmente dolorosos porque causam um ódio direcionado aos seres humanos concretos. Detestam o capitalismo porque ele determinou a este outro homem a posição que eles gostariam de ter.
No segundo capítulo, Mises aborda o conceito de como o capitalismo é como ele é visto pelo homem comum. Mesmo no auge do liberalismo, somente poucas pessoas tinham uma compreensão total do funcionamento da economia de mercado. As pessoas gostariam de encontrar nos livros de economia o conhecimento que se encaixa perfeitamente em sua imagem preconcebida de como a economia deveria ser, ou seja, uma disciplina moldada de acordo com a estrutura lógica da física ou biologia. No seu modo de ver, os desenvolvimentos tecnológicos sem precedentes dos últimos duzentos anos não foram causados ou favorecidos pelo livre comércio. Portanto, irão continuar sob qualquer outro sistema econômico.
No terceiro capítulo, Mises aborda como funciona o mercado literário para as ideias liberais. Se o público comprador é muito tolo para apreciar a tempo o valor de um produto, mesmo que excelente, todo o trabalho e dinheiro foram gastos em vão. Os antigos liberais saudaram o aparecimento e evolução de um mercado para os produtos literários como uma parte essencial do processo que emancipou os homens da tutela de reis e aristocratas.
Já os progressistas dos tempos modernos têm armas mais eficientes ao seu dispor. Sua ferramenta principal de opressão é o boicote a autores, editores, editoras, anunciantes e leitores. Todo mundo é livre para se abster de ler livros, revistas e jornais. Mas é bem diferente quando algumas pessoas ameaçam as outras com represálias sérias, caso elas não parem de patrocinar certas publicações e suas editoras.
Finalmente no quarto e último capítulo, o autor traz algumas objeções ao capitalismo que não são ligadas à economia, como o materialismo. Os socialistas não podem deixar de admitir que o capitalismo tem a tendência de melhorar as condições materiais da humanidade. Mas dizem que o capitalismo tem desviado o homem de ocupações mais nobres e elevadas. Ele alimenta os corpos, mas priva as almas e mentes.
Outro ponto abordado é que o capitalismo é injusto. Os pobres são necessitados somente porque pessoas injustas retiraram deles o seu direito. Na visão de Mises, é absurdo culpar o capitalismo pela situação que os povos atrasados provocaram sobre eles mesmos. O remédio indicado não é a “justiça”, mas a substituição de políticas insanas por políticas sadias, isto é, laissez-faire. O livro, apesar de ter sido escrito em 1956, é bastante atual. Mises aborda questões do cotidiano e analisa as várias afirmações um tanto equivocadas que são postas na sociedade. Somente com o devido reconhecimento da economia de mercado como propulsora de desenvolvimento e prosperidade se conseguirá combater a pobreza que ainda existe, principalmente nos países subdesenvolvidos.