Resenha Crítica por Juliana Bravo, Associada II do Instituto Líderes do Amanhã
Publicada originalmente em 1949, a obra “1984” foi escrita pelo britânico George Orwell, que, na época, sofria um caso grave de tuberculose. Trata-se de uma distopia em que o governo controla cada aspecto da vida dos cidadãos da fictícia Oceania, por meio de modulação de suas mentes, informações e até mesmo a linguagem utilizada.
O livro é centrado na vida de Winston Smith, um homem comum, aprisionado na opressiva máquina do Estado. Ele trabalha no Ministério da Verdade, no qual reescreve a história para se adequar aos caprichos do Partido, uma verdadeira representação da manipulação da realidade e da própria censura de informações. Smith, no intuito de preservar sua humanidade em meio à tirania estatal, começa a escrever um diário, ato que, se descoberto, é passível de pena de morte, mas que não impede o protagonista de mantê-lo.
A obra de Orwell pinta um mundo sombrio, deprimente e sufocante, onde a privacidade é uma ilusão e a verdade é um conceito maleável. A vigilância constante do Estado, descrita por meio da icônica frase “o Grande Irmão está te observando”, cria uma atmosfera de paranoia que se infiltra nas páginas e na mente do leitor. A constante vigilância é marcada pela massiva presença das teletelas, uma tecnologia que une câmera e tela que não podem ser desligadas e permitem, simultaneamente, que o governo transmita sua propaganda enquanto vigia os indivíduos. Assim, cada passo dos cidadãos é monitorado, cada pensamento dissidente é punido, e a própria língua é pervertida – chamada de “novilíngua”, na obra – para minar a capacidade de expressar discordância.
Smith, levado pelos sentimentos românticos desenvolvidos por Julia, passa da apatia a uma postura de revolta em relação ao sistema. Apaixonados, eles sabem que se rebelar é perigoso, mas acreditam – inocentemente – que o sentimento que compartilham é imune às circunstâncias adversas. O relacionamento da dupla é uma das poucas manifestações de amor e liberdade que florescem no mundo repressivo da distópica Oceania, o que contribui para cativar o leitor de “1984”.
A extensão da vigilância cruel do Estado resulta na captura e tortura de Smith e Julia. O’Brien, personagem que pensava-se ser um aliado contra o Estado, é, na verdade, um aliado do Partido e o responsável pelas torturas impostas a Smith, o que incluiu levá-lo à Sala 101, local onde os prisioneiros enfrentam seus maiores medos. No caso de Smith, o medo era de ratos. O’Brien coloca uma máscara em sua cabeça e ameaça o flagelar com os animais. Smith, então, implora para que façam isso com Julia, em vez dele, momento em que o autor ilustra a renúncia à humanidade e a traição aos próprios pensamentos e sentimentos.
O final de “1984” é profundamente impactante. Smith é levado a acreditar que ama o Grande Irmão e o leitor conclui que o Estado detém total domínio sobre a realidade e sobre a mente dos indivíduos. A submissão final do protagonista à autoridade do Partido é a representação da capacidade dos regimes totalitários em destruir a individualidade natural do ser humano.
“1984” explora os perigos do totalitarismo, a manipulação da verdade e a perda da liberdade individual. A obra é um alerta sobre os riscos de um Estado que controla não apenas a política e a sociedade, mas também a mente e a linguagem das pessoas. A “novilíngua”, a constante vigilância e a figura do Grande Irmão tornam-se símbolos da opressão e da censura governamentais.
Vale dizer que Orwell era um defensor do socialismo democrático e suas obras expressam suas convicções políticas, desenvolvidas no contexto histórico em que o autor viveu. A chocante sociedade ilustrada em “1984” se assemelha à Alemanha de Hitler, na qual era comum haver repressão de ideias, controle estatal absoluto e descarte de indivíduos que apresentavam inconformismo com as práticas totalitárias. “1984” é uma obra atemporal que alerta as pessoas a permanecerem vigilantes contra toda e qualquer ameaça às liberdades individuais, o que, por si só, já vale a leitura.