Artigo de Opinião – Por Ivan Takao Oikawa, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
A redação do ENEM deste ano trouxe à tona uma realidade impactante que permeia a sociedade brasileira: a sobrecarga enfrentada por mulheres, que desempenham uma maratona diária de tarefas, vivendo sob constante exaustão e estresse. Esse trabalho, muitas vezes invisível, foi o ponto central da reflexão proposta, provocando uma análise sobre como diferentes gerações encaram essa realidade.
No Brasil, as mulheres gastam em média 21 horas por semana nas tarefas que não são remuneradas. Em um ano, são 1.118 horas dedicadas a um trabalho que é fundamental, beneficia toda a sociedade, mas é pouco valorizado. A invisibilidade do trabalho pelas mulheres no Brasil é uma questão profundamente complexa e enraizada, exigindo uma abordagem cuidadosa, espaldada por dados sólidos para ser enfrentada de maneira eficaz.
Neste contexto, a reflexão sobre os conceitos do economista Thomas Sowell torna-se pertinente, visto que parte dos seus estudos apresenta, na prática, discussões como gênero, igualdade, educação, raça, renda e desenvolvimento econômico.
Sowell enfatiza a importância de uma análise rigorosa e baseada em evidências para compreender as dinâmicas econômicas e sociais. No caso do trabalho de cuidado realizado pela mulher no Brasil, a primeira falácia que deve ser desmistificada é a de que esse trabalho não tem valor econômico ou não contribui para o crescimento econômico. A realidade é que o trabalho desempenhado pelas mulheres, como cuidar de crianças, idosos e realizar tarefas domésticas, é fundamental para a economia do país. Esse trabalho permite que outros membros da família, em sua maioria homens, participem do mercado de trabalho, impulsionando o crescimento econômico.
Uma falácia comumente observada é a suposição de que o trabalho de cuidado é uma escolha das mulheres e, portanto, não deve ser valorizado ou reconhecido. No entanto, essa escolha muitas vezes é resultado de pressões sociais e falta de oportunidades, devido à falta de apoio à família e à carência de serviços de cuidado acessíveis e de qualidade. A sociedade deve reconhecer que a divisão desigual do trabalho reforça estereótipos de gênero prejudiciais e perpetua a disparidade econômica.
Adam Smith, em sua obra “A Riqueza das Nações”, discute a divisão do trabalho e sua influência na produtividade econômica. A ausência de reconhecimento e valorização do trabalho feminino perpetua desigualdades de gênero, dificultando o pleno desenvolvimento das mulheres em outras esferas da vida. A visão de Smith sobre a importância do reconhecimento do trabalho como fonte de valor econômico poderia ser aplicada aqui; a falta de mensuração adequada do trabalho feminino contribui para a perpetuação da invisibilidade, minando o poder econômico e social das mulheres.
É fundamental abordar os desafios que envolvem a invisibilidade do trabalho desempenhado pelas mulheres no Brasil. No entanto, é crucial conduzir esse debate com maior racionalidade e menos emotividade. Há um risco evidente de que, ao buscar uma legislação destinada a promover a igualdade, inadvertidamente demonizemos a importância do trabalho realizado pelas mulheres.
Em conclusão, as palavras da diretora-executiva do Independent Women’s Forum, Sabrina Schaeffer, ressaltam a importância de romper com o mito da vitimização feminina, destacando como isso pode prejudicar as mulheres ao minar sua autoconfiança e desviá-las do caminho da autonomia financeira e da influência profissional. Para superar as disparidades de gênero de maneira eficaz, é crucial integrar os princípios fundamentais da economia de mercado nas soluções propostas. Dessa forma, torna-se necessário buscar soluções para as disparidades de gênero e para a manutenção da robustez econômica.