Artigo de Opinião – Por Samara Gnocchi Repossi, Associada Alumni do Instituto Líderes do Amanhã
Tenho uma história peculiar com o dinheiro, mas que pode ser semelhante à de muitos brasileiros. Vindo de uma família de classe baixa, com uma bela história de superação baseada na honestidade e no trabalho árduo, cresci ouvindo as histórias dos meus pais, que, ao se casarem, moraram em um barraco e conseguiram construir uma casa e comprar um carro. Lembro-me de falar com a minha mãe quando criança sobre ter desejo de comer um salgadinho ou um sorvete, porque isso não era algo que eu consumia com frequência. Não passei por necessidades extremas, mas testemunhei e convivi com os esforços dos meus pais para conquistar bens.
E por que estou compartilhando isso com vocês? Para chegar ao ponto de que, em tudo, precisávamos de dinheiro, e para tudo isso, sempre faltava dinheiro. Era contado, recontado, guardado, juntado, somado, e ao final, queríamos descontos. E se for à vista? Tem desconto? Pronto, formamos uma família de comerciantes, pesquisadores e negociadores. Sempre o que faltava ou precisava ser economizado era o escasso dinheiro.
Com uma relação conturbada, como eu poderia achar o dinheiro algo bom? Era quase impossível amar esse meio de compra. Até que eu conheci um livro, “A Revolta de Atlas”, da autora Ayn Rand, e com ele, o discurso sobre dinheiro pronunciado pelo personagem Francisco D’Anconia. Questionado se o dinheiro é a origem de todo mal, ele retruca que não é a origem do mal, mas sim o produto da mente humana; portanto, não se pode consumir mais do que se produz, a não ser que seja usado para espoliação.
Partindo das ideias da autora, o dinheiro é um instrumento de troca entre seres humanos capazes de produzir. Pensando que o dinheiro surge do trabalho, ele deveria ser valorizado, considerado um bem. Ao aceitar o dinheiro como forma de pagamento pelo esforço e produção, fazemos isso sabendo que ele representa o produto e o esforço do outro. Não se pede nada, não se ganha nada, não se saqueia. Na verdade, se faz, se conquista.
Dessa forma, minha visão sobre a mesma realidade mudou. Ao contrário do passado, o dinheiro não era mais algo sofrido, não era o problema. O dinheiro agora representava todo o esforço de trabalho que meus pais estavam fazendo por todos nós da família. Não odiava mais o dinheiro; agora, passei a amá-lo e querer fazer mais.
Minha família prosperou na vida, e o que passamos nessa etapa foi fundamental para nosso crescimento pessoal e profissional. Foi graças ao trabalho árduo, justo e honesto dos meus pais que conhecemos e fomos admirados por um amigo que futuramente se tornaria nosso sócio, outra pessoa que trabalhou duro para ter e realizar o que tem.
Se no Brasil o dinheiro fosse valorizado, teríamos mais pessoas querendo produzi-lo em vez de apenas querer ganhá-lo. Teríamos mais pessoas querendo produzir em vez de espoliar, e conseguiríamos ter um Estado menor e indivíduos mais responsáveis por si mesmos. Com tantas riquezas naturais, em um país tão bonito, com solo tão fértil, como seria se o Brasil amasse o dinheiro?