Artigo de Opinião por Leonard Batista, Associado III do Instituto Líderes do Amanhã
Aristóteles, um dos pensadores eminentes da Grécia Antiga, sustentava uma visão que ecoa ainda nos corredores do discurso intelectual. Dentro de suas reflexões profundas, Aristóteles postulou a noção de que o universo da palavra não é sinônimo do universo da ação. Essa afirmação, enraizada em suas meditações filosóficas sobre ética, política e natureza humana, forma a base para uma defesa robusta da liberdade de expressão.
A perspectiva de Aristóteles emerge de sua exploração profunda do comportamento humano e da comunicação. Em sua obra “Ética a Nicômaco”, Aristóteles delineou a importância das ações como reflexões tangíveis da virtude e do caráter. Para ele, o universo da ação constitui o domínio em que os indivíduos manifestam suas inclinações éticas e estatura moral. A virtude, como Aristóteles postulou, não é apenas um conceito abstrato, mas é realizada por meio das escolhas e ações dos indivíduos. As ações que alguém empreende definem sua bússola moral, orientando-os em direção à “eudaimonia”, o estado máximo de florescimento humano e bem-estar. É nesse domínio que Aristóteles fundamentou firmemente o tecido ético de sua filosofia.
Por outro lado, Aristóteles reconheceu a potência do universo da palavra, que abrange o domínio da retórica e da comunicação. Em seu tratado “Retórica”, Aristóteles explicou a arte da persuasão e a eloquência da fala. Ele reconheceu a capacidade das palavras de influenciar, inspirar e orientar empreendimentos humanos. Dentro deste universo, os indivíduos utilizam o poder da linguagem para transmitir ideias, fomentar diálogo e articular suas convicções. O universo da palavra, segundo Aristóteles, apresenta um meio através do qual os indivíduos podem influenciar opiniões, gerar compreensão e moldar a trajetória da sociedade.
A distinção entre o universo da palavra e o universo da ação, para ele, carrega implicações profundas para a defesa liberal da liberdade de expressão. Ao abraçar uma perspectiva liberal, reconhece-se a sacralidade da autonomia individual e o valor inerente de pontos de vista diversos. Dentro dessa estrutura, a harmonização dos conceitos de Aristóteles se ajusta de maneira coesa. A liberdade de expressão – o direito de expressar opiniões – emerge do universo da palavra, uma materialização da autonomia ética. Os indivíduos, ao abraçarem seu direito de se manifestar, participam na busca pela virtude, engajando-se em deliberação, reflexão e comunicação. Tal como as ações virtuosas moldam o caráter, a expressão de pensamentos aprimora as capacidades intelectuais e redesenha o tecido da sociedade.
Uma sociedade liberal, fundamentada nos ensinamentos de Aristóteles, reconhece que os domínios da fala e da ação estão universos separados. A liberdade irrestrita de expressão torna-se não apenas um preceito legal, mas um imperativo ético. Este imperativo emana da própria natureza da existência humana, em que a convergência desses universos enriquece o crescimento individual. Ao preservar a sacralidade da expressão, um quadro liberal celebra a dignidade inerente dos indivíduos para articular seus pensamentos, fomenta uma cultura de diversidade, diálogo aberto e florescimento intelectual. Dessa forma, a visão de Aristóteles sobre a distinção entre o universo da palavra e o universo da ação revela uma base sobre a qual uma defesa liberal da liberdade de expressão irrestrita pode ser construída. A síntese desses universos encapsula a essência da autonomia individual e do crescimento ético. Ao adotar a sabedoria de Aristóteles, a sociedade se torna capacitada a defender um contexto em que a troca irrestrita de ideias não só é permitida, mas também é celebrada como um veículo para o desenvolvimento humano.